terça-feira, 14 de julho de 2020

Ed Benguiat, criador de fontes




Artesão de letras traz seu arsenal de alfabetos
Felipe Taborda
Especial para O GLOBO(03/05/2001)

Um dos inúmeros adventos da tecnologia possibilitada pelos computadores é que estes dão a sensação, a qualquer pessoa com limitados conhecimentos artísticos, de que é um designer gráfico. Esta ilusão, às vezes eufórica, é estendida também aos próprios designers gráficos, quando o assunto é desenho de letras. Os computadores possuem um programa específico para criar tipografias rapidamente, transformando assim todo e qualquer designer em um criador de tipos. Não há, hoje em dia, quase nenhum designer gráfico no mundo que não tenha desenhado seu próprio alfabeto e, é claro, na maior parte dos casos utilizáveis apenas em criações próprias, tal a ilegibilidade e falta de conceito que apresentam.

Criações que se impõem pela originalidade

Antes de tudo isso acontecer, em uma época em que não havia computadores, poucos designers se aventuravam a criar um alfabeto pessoal. Este trabalho exigia o desenho minucioso de cada letra, uma por uma, maiúsculas e minúsculas, e toda sua série de variações, tais como itálico (a letra inclinada), versões bold ou semi-bold (a letra um pouco ou mais gorda), condensada, estendida etc, etc. Para alguém ousar desenhar tudo isso era fundamental que sua criação apresentasse conceitos básicos sólidos, pois o enorme tempo gasto para realizar tudo isso não se justificaria apenas para uma experiência. Daí a longevidade da maior parte das criações de mestres designers do passado, tais como Herb Lubalin, Adrian Frutiger e Eric Gill, entre outros, e alguns poucos contemporâneos, tais como Zuzana Licko, Neville Brody e Barry Deck.




Nesta lista de excelências está o designer gráfico americano Ed Benguiat. Nascido no Brooklyn, Nova York, começou sua carreira observando o trabalho de seu pai, diretor de vitrines e displays da loja de departamentos Bloomingdale. Após uma educação convencional e uma passagem pelas Forças Armadas dos Estados Unidos, Ed iniciou o que achava ser sua verdadeira profissão e o que mais gosta de fazer além de desenhar letras: tocar bateria em bandas de jazz.

Em uma cidade como Nova York em plena década de 50, onde o jazz estava acontecendo, Ed tocava regularmente em alguns clubes noturnos e com várias big bands , tendo sido apontado na época pela revista “Downbeat” como o terceiro melhor baterista de jazz dos EUA, em uma votação de leitores. Como sobreviver como músico de jazz estava difícil, Ed matriculou-se na Workshop School of Advertising Art na intenção de tornar-se, também, um ilustrador.

— Na realidade, o que eu queria mesmo era freqüentar as aulas de modelo vivo e desenhar mulheres nuas, tal como Alberto Varga (o magnífico ilustrador de pin-ups) fazia — lembra Benguiat. — Porém eu desenhava tão mal que os professores me aconselharam a mudar de profissão.


Tipologia de Benguiat espalhou-se pelo mundo
Em um estúdio de publicidade, Ed começou a desenhar letras, substituindo um arte-finalista que havia faltado ao trabalho. Hoje, Ed é uma das grandes referências do design gráfico mundial, com uma carreira vertiginosa no universo tipográfico. Seus trabalhos para a International Typeface Corporation, a principal empresa americana, criada em 1971 por Herb Lubalin, Aaron Burns e Ed Rondthaler para comercializar fontes, transformaram-se em sucessos após sucessos. Algumas de suas criações, tais como os alfabetos Souvenir, Korinna e Bookman, são algumas das letras mais usadas e conhecidas de todos os tempos. Já tendo criado mais de 600 alfabetos, Ed ainda hoje costuma dizer: “Só o próximo que eu criarei é que vai ser perfeito”. Além de seu trabalho com letras, Ed também é um exímio criador de logotipos, tais como o do jornal “The New York Times”, das revistas “Sports Illustrated” e “Esquire”, dos filmes “Planeta dos Macacos” e “Super Fly”, entre outros.
Benguiat estará no Rio, a convite da UniverCidade, para dois cursos na unidade de Ipanema: “Design com tipos” e “Criando alfabetos”, de 5 a 8 de junho. Antes, o designer americano dará uma palestra no auditório do GLOBO, amanhã, às 19h, dentro da série Encontros no GLOBO.

Para o designer gráfico Carlos M. Horcades, diretor do Instituto de Artes Visuais da UniverCidade e responsável pela vinda de Benguiat ao Rio, a presença do criador americano é enriquecedora:

— Ela nos aproxima do universo da tipografia mundial. Não há, no mundo ocidental, nenhuma cidade com mais de dez mil habitantes que não tenha uma letra de Ed em uma fachada, letreiro, revista ou jornal — acredita Horcades.

FELIPE TABORDA é designer gráfico

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