terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Carta aos Pensadores Errantes, por Ramon Brandão

Pragmatismo Político


Ramon Brandão



A experiência de uma reflexão errante não está além do mundo e, tampouco, é o reflexo do mundo; ela é, antes, a presença de algo no mundo antes que o mundo o seja, de fato; é a irrupção que resta quando tudo desaparece; é o estupor daquilo que aparece quando já não há nada.

Nietzsche, filósofo alemão, apelava para que nós, os pensadores do futuro, refletíssemos e desenvolvêssemos “o outro” que habita em nós, para além dos limites da razão, da moral e da verdade de nosso tempo. Razão, moral e verdade que tentam, ainda hoje e desde a muito, suprimir aquilo que designaram como a “parte maldita” da existência.
Por isso, não resta outra coisa aos pensadores singulares, àqueles que adotam e que compreendem a vida como experimentação, como um ensaio a partir do próprio conhecimento, senão a errância; resta a eles senão o abandono das crenças e das metafísicas enraizadas em nossa subjetividade que bloqueiam qualquer abertura para a constituição de formas outras de viver e de se comportar no mundo.
O trabalho de tais pensadores errantes é, sobretudo, árduo, e são muitos os que desistem dessa difícil responsabilidade. É um trabalho que exige a transmutação do pensamento, o desmonte das certezas que, até agora, carregávamos. No fim, exige um estado de questionamento permanente de si e do mundo.