domingo, 5 de novembro de 2017

Documento da Marinha Argentina Comprova Que Musico Brasileiro Morreu Sob Tortura


DOCUMENTOS REVELADOS



Documento descoberto no arquivo da  Escola de Mecânica da Armada, a temível ESMA, comprova que o músico Francisco Tenório Junior morreu sob torturas. Trata-se de um oficio enviado ao embaixador do Brasil na Argentina pelo Capitão de Corveta Jorge Acosta, comunicando a morte do músico nas instalações da ESMA.
A ESMA foi o mais emblemático centro clandestino de detenção e tortura utilizado pela ditadura militar argentina, por onde passaram mais de 5000 presos, posteriormente, desaparecidos.
A prisão de Tenório Jr. que excursionava por Buenos Aires, acompanhando a turnê artística do violonista Toquinho e seu parceiro, o poeta Vinícius de Moraes, ocorreu na noite de 18 de março de 1976, logo após ter  deixado  o  Hotel  Normandie para  procurar  uma  farmácia.
Na ocasião, deixou no hotel um bilhete no qual estava escrito: “Vou sair pra comprar cigarro e um remédio. Volto logo”. Nunca mais voltou.
O documento, assinado pelo capitão de fragata Eduardo Acosta, que era o chefe de operações do grupo de tarefa 3.3/2, traz do lado esquerdo, a rubrica do contra-almirante Jacinto Rubem Chamorro, diretor da Escola Mecânica da Armada. O carimbo sob a assinatura de Acosta   traz  o número de matrícula: Rol. n9 33.420.
Francisco Tenório Junior está na lista dos desaparecidos políticos.


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sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Festa da Penha: germe das escolas de samba


Por Jacir Roberto Guimarães, no GGN



Aconteceu há 200 anos
Reunidas pelo intendente Paulo Fernandes Viana, na Intendência-Geral de Polícia, no Campo de Santana, as irmandades e demais confrarias religiosas que congregavam negros escravos e libertos foram comunicadas que a partir daquele ano, 1817, estavam proibidas as festas “de congos” e demais reuniões que aquelas entidades realizavam em toda a cidade do Rio de Janeiro, principalmente no Campo de Santana, por ocasião das celebrações de seus santos padroeiros. A alegação apresentada pelo nobre foi a de que o Rei D. João VI, “para sossego público, mandou suspender estas festas que traziam transtornos para a população da Corte”. No ano anterior, elas já tinham sido proibidas devido ao luto pelo falecimento da Rainha D. Maria I. Agora, aproveitando a ocasião, ele determinava o cancelamento em definitivo dos eventos.
Informados pelas entidades de negros que tais festas eram as principais fontes de renda que obtinham para se manter e prestar auxílios aos seus membros, Paulo Fernandes Viana obteve autorização do rei para oferecer 50 mil réis em subsídios anuais em troca do seu cancelamento. As confrarias menores aceitaram, mas os irmãos de N. Sa. do Rosário somente requereram a subvenção em 1822, quando o intendente já havia falecido e o Brasil vivia a efervescência política que levaria à sua separação de Portugal.
Essas informações constam do manuscrito II-34.28.025, da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, requerimento da Irmandade de N. Sa. do Rosário e São Benedito a José Bonifácio de Andrada e Silva solicitando “receber pelos cofres públicos um subsídio anual em substituição às esmolas que arrecadavam com suas danças por ocasião das festividades de seus padroeiros". O despacho final manda pagar um único subsídio aos irmãos do Rosário e extinguir a prática.

domingo, 3 de setembro de 2017

Livro traz em cordel biografias de 15 mulheres negras que fizeram história


REVISTA DO BRASIL

Por Nina Fideles

Histórias de Antonieta de Barros, Carolina Maria de Jesus, Dandara dos Palmares, Laudelina de Campos, Luísa Mahin e outras heroínas negras brasileiras estão em novo livro da cordelista Jarid Arraes

Jarid Arraes, de 26 anos, rompe com o estereótipo do produtor de cordéis do Nordeste

Com a intenção de misturar a tradição do cordel com novos elementos, a escritora e cordelista Jarid Arraes, 26 anos, rompe com o estereótipo do produtor de cordéis do Nordeste. Tanto na aparência quanto nos temas que são tratados pelos folhetos publicados por ela, que já são mais de 60 títulos. Nada de chapéus de couro ou vestidos de chita, como ela mesma diz, nem de personagens caricatos ou cômicos para contar histórias. Seus folhetos tratam questões raciais, de gênero, LGBT, lendas da África e temas para o público infantil.
Jarid lançou recentemente o livro Heróinas Negras Brasileiras em 15 cordéis, que reúne 15 biografias, já publicadas em folhetos, de mulheres como Antonieta de Barros, Carolina Maria de Jesus, Dandara dos Palmares, Laudelina de Campos, Luísa Mahin e outras que fizeram história no país. Ainda no formato de folhetos, com encomendasapenas por email, Jarid vendeu mais de 20 mil cordéis. O livro já esgotou a segunda tiragem.
Nascida na cidade de Juazeiro do Norte, na Região Metropolitana da Cariri, no Ceará, Jarid tem a literatura de cordel no sangue. O avô, de 81 anos, Abraão Batista, e o pai, com 47, Hamurabi Batista, são cordelistas e xilogravuristas. Viajam juntos e continuam escrevendo. “Eu cresci lendo os cordéis deles, especialmente. Sempre que eles publicavam algo novo eu era a primeira a ler”, conta.

quarta-feira, 1 de março de 2017

Nos 452 anos da Cidade do Rio de Janeiro um pouco de Drummond


Foto: Leo Aversa


Canto do Rio em Sol


Guanabara, seio, braço

de a-mar:
em teu nome, a sigla rara
dos tempos do verbo mar.


Os que te amamos sentimos

e não sabemos cantar:
o que é sombra do Silvestre
sol da Urca
dengue flamingo
                                                    mitos da Tijuca de Alencar.                                                        

                                                                           

Guanabara, saia clara

estufando em redondel:
                     que é carne, que é terra e alísio                       
em teu crisol?


Nunca vi terra tão gente

nem gente tão florival.
Teu frêmito é teu encanto
(sem decreto) capital.


Agora, que te fitamos

nos olhos, 
e que neles pressentimos 
o ser telúrico, essencial, 
agora sim és Estado
de graça, condado real.



Rio, nome sussurrante,

Rio que te vais passando
a mar de estórias e sonhos
e em teu constante janeiro
corres pela nossa vida 
como sangue, como seiva
-- não são imagens exangues
como perfume na fronha
... como pupila do gato
risca o topázio no escuro.
Rio-tato-
-vista-gosto-risco-vertigem
Rio-antúrio






Rio das quatro lagoas

de quatro túneis irmãos
Rio em ã
Maracanã
Sacopenapã
Rio em ol em amba em umba sobretudo em inho
de amorzinho
benzinho
dá-se um jeitinho
do saxofone de Pixinguinha chamando pela Velha Guarda
como quem do alto do Morro Cara de Cão
chama pelos tamoios errantes em suas pirogas
Rio, milhão de coisas
luminosardentissuavimariposas:
como te explicar à luz da Constituição?



Irajá Pavuna Ilha do Gato

-- emudeceram as aldeias gentílicas?
A Festa das Canoas dispersou-se?
Junto ao Paço já não se ouve o sino de São José
pastoreando os fiéis da várzea?
Soou o toque do Aragão sobre a cidade?

Não não não não não não não

Rio, mágico, dás uma cabriola, 

teu desenho no ar é nítido como os primeiros grafismos,
teu acordar, um feixe de zínias na correnteza esperta do tempo
o tempo que humaniza e jovializa as cidades.
Rio novo a cada menino que nasce
a cada casamento
a cada namorado
que te descobre enquanto rio-rindo.
assistes ao pobre fluir dos homens e de suas glórias pré-fabricadas.


Carlos Drummond de Andrade


Fonte: http://www.casadobruxo.com.br/poesia/c/drumond43.htm








terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Carta aos Pensadores Errantes, por Ramon Brandão

Pragmatismo Político


Ramon Brandão



A experiência de uma reflexão errante não está além do mundo e, tampouco, é o reflexo do mundo; ela é, antes, a presença de algo no mundo antes que o mundo o seja, de fato; é a irrupção que resta quando tudo desaparece; é o estupor daquilo que aparece quando já não há nada.

Nietzsche, filósofo alemão, apelava para que nós, os pensadores do futuro, refletíssemos e desenvolvêssemos “o outro” que habita em nós, para além dos limites da razão, da moral e da verdade de nosso tempo. Razão, moral e verdade que tentam, ainda hoje e desde a muito, suprimir aquilo que designaram como a “parte maldita” da existência.
Por isso, não resta outra coisa aos pensadores singulares, àqueles que adotam e que compreendem a vida como experimentação, como um ensaio a partir do próprio conhecimento, senão a errância; resta a eles senão o abandono das crenças e das metafísicas enraizadas em nossa subjetividade que bloqueiam qualquer abertura para a constituição de formas outras de viver e de se comportar no mundo.
O trabalho de tais pensadores errantes é, sobretudo, árduo, e são muitos os que desistem dessa difícil responsabilidade. É um trabalho que exige a transmutação do pensamento, o desmonte das certezas que, até agora, carregávamos. No fim, exige um estado de questionamento permanente de si e do mundo.