Artesão de letras traz seu arsenal de alfabetos
Felipe Taborda
Especial para O GLOBO(03/05/2001)
Um dos inúmeros adventos da tecnologia possibilitada pelos computadores é que estes dão a sensação, a qualquer pessoa com limitados conhecimentos artísticos, de que é um designer gráfico. Esta ilusão, às vezes eufórica, é estendida também aos próprios designers gráficos, quando o assunto é desenho de letras. Os computadores possuem um programa específico para criar tipografias rapidamente, transformando assim todo e qualquer designer em um criador de tipos. Não há, hoje em dia, quase nenhum designer gráfico no mundo que não tenha desenhado seu próprio alfabeto e, é claro, na maior parte dos casos utilizáveis apenas em criações próprias, tal a ilegibilidade e falta de conceito que apresentam.
Criações que se impõem pela originalidade
Antes de tudo isso acontecer, em uma época em que não havia computadores, poucos designers se aventuravam a criar um alfabeto pessoal. Este trabalho exigia o desenho minucioso de cada letra, uma por uma, maiúsculas e minúsculas, e toda sua série de variações, tais como itálico (a letra inclinada), versões bold ou semi-bold (a letra um pouco ou mais gorda), condensada, estendida etc, etc. Para alguém ousar desenhar tudo isso era fundamental que sua criação apresentasse conceitos básicos sólidos, pois o enorme tempo gasto para realizar tudo isso não se justificaria apenas para uma experiência. Daí a longevidade da maior parte das criações de mestres designers do passado, tais como Herb Lubalin, Adrian Frutiger e Eric Gill, entre outros, e alguns poucos contemporâneos, tais como Zuzana Licko, Neville Brody e Barry Deck.