sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Os primórdios e as “ruínas” da Jovem Guarda


Haddock, esquina com Matoso e a entrada do antigo Cinema Madrid


No início da decada de 50, começava-se a viver mais um período de prosperidade de um pós-guerra, no caso a II Grande Guerra, coisas do século XX. A cultura norte americana se aprofunda ainda mais em várias partes desse mundo, e atingia a juventude muito através da música, o rock'n'roll.

No Rio de Janeiro um desses pontos se localizava na Tijuca, na Rua Haddock Lobo, num pedaço de calçada entre as esquinas da Rua do Matoso e da Barão de Ubá. Na primeira esquina os jovens da época ali se aglomeravam principalmente por que se localizava o Cinema Madrid, pois os assuntos de maior preferência do pessoal era, além do rock, os quadrinhos e o cinema.



Rua do Matoso e Barão de Ubá à direita (GoogleMaps)


Indo em direção à Barão de Ubá, um outro ponto de encontro, aliás imprescindível para uma aglomeração como essa, um bar que no caso era o Divino Bar, e a festa estava completa.


Divino Bar



Na paisagem atual, o Divino Bar ocupava o local onde se vê um letreiro amarelo com o toldo vermelho, incluía também a loja seguinte à direita.


Esse cenário era idêntico a tantos outros, mas o que tornou especial só seria conhecido anos mais tarde quando a Jovem Guarda estourou no mercado e os principais nomes e outros que fizeram parte desse movimento, sairam dessa parte da Tijuca.

Bem, o espaço físico foi apresentado para humanizá-lo, trechos do livro do biógrafo Paulo César Araújo, disponível na nuvem, que dá a noção do que ocorria por lá nessa época:

“O pessoal se reunia então em frente ao Bar Divino, na esquina darua do Matoso com Haddock Lobo, próximo ao Cinema Madri e aoInstituto Lafayette. Espécie de Memphis do rock nacional, aquela esquinada Tijuca atraía garotos como Tim Maia, Erasmo Carlos, Jorge Ben (que nos anos 90 mudou o nome para Jorge Benjor), Lafayette, Wilson Simonal,Arlênio Lívio, Luiz Ayrão, futuros Blue Caps como Renato e Paulo César Barros, futuros Fevers como Luiz Carlos e Liebert Ferreira... Raul Seixas não andava por ali porque morava na Bahia, mas logo, logo, alguém que vivia mais perto, um capixaba chamado Roberto Carlos, estaria se enturmando naquele clube da esquina carioca - ou quase americano.”

“O triunvirato de consumo cultural daqueles garotos era formado basicamente por discos, filmes e revistas em quadrinhos americanos. E disso o que eles reproduziam eram as canções. Não se pode dizer que faziam rock de garagem porque todos cresceram sem automóvel e entre pessoas que também não tinham. Eles faziam rock de rua e, como ficavam até tarde tocando, frequentemente provocavam a ira de alguns moradores, especialmente os da esquina da rua do Matoso com Haddock Lobo. A polícia era então chamada e prendia o violão dos roqueiros. No dia seguinte, o responsável pelo garoto ia até a delegacia e pegava o instrumento de volta. Mas à noite ele estava novamente na mão da turma. Foi quando um delegado da Tijuca ficou invocado e decidiu prender os seresteiros em vez do violão. "Nós passamos várias noites na delegacia por causa dessas noitadas de rock", afirma Erasmo Carlos, revelando que não foram apenas os antigos sambistas os perseguidos pela polícia. Nos primórdios do rock no Brasil os roqueiros também o foram"



Com o tempo muitos deles ensaiavam em algumas casas da região, e ali amadurecia as carreiras individuais assim como bandas eram formadas, para em seguida tomar rumo aos palcos.

Como pode-se ver, aquela parte da Tijuca tem uma história rica e importante nesse segmento da música feita no Brasil. Apesar disso, ao se falar da Jovem Guarda, parece como um ponto perdido no passado bem remoto e esfumaçado. Não houve continuidade em preservá-la, após o fim do movimento; além do mais a narativa e os locais onde houveram toda essa movimentação ainda permanecem lá, um verdadeiro museu ao ar livre, que o poder público durante esses quase 50 anos, não conseguiu ou não quis implantar um polo de grande apelo turístico.



A Prefeitura do Rio, em 2014, lançou um cardápio de locais a serem homenageados na comemoração pelos 450 anos da cidade. Não sei qual foi o resultado, mas caso a região tenha sido escolhida, o dia seguinte a lembrança seria novamente colocada dentro da caixinha do esquecimento.






Fontes e Fotos:

Google Maps

http://webinsider.com.br/2013/11/13/as-duas-faces-do-progresso/

http://patota-carioca.blogspot.com.br/2011/11/turma-do-divino-tijuca.html




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